Meditação: uma espiritualidade substituta?
11/04/25
O padre e escritor Bernard Minvielle
defende que a meditação deve estar aberta à oração para ser uma verdadeira
libertação interior
A moda atual da meditação é motivo de regozijo e,
ao mesmo tempo, de preocupação, pois ela pode assumir uma forma narcisista. No
livro em francês Pourquoi la
méditation ne suffit pas ("Porque não basta meditar"), o
padre Bernard Minvielle defende que a meditação deve estar aberta à oração para
ser uma verdadeira libertação interior.
A equipe da Aleteia em francês entrevistou o autor. Confira!
Aleteia: O que o motivou a escrever este livro?
Bernard Minvielle: Nos últimos doze anos, tenho ensinado a história
da espiritualidade para estudantes de teologia. Que sorte descobrir sempre
um tesouro de tamanha riqueza! Permanece para mim uma fonte de admiração e
alegria. Mas que tristeza também notar que nossa herança comum é tão
desconhecida! Vá às grandes livrarias e navegue nas prateleiras dedicadas
à espiritualidade. Os mestres orientais eclipsam Francisco de Sales,
ou Inácio de Loyola. Compreendi, assim, a importância da meditação e
entrei em diálogo com ela e seus grandes autores. Eu queria me juntar aos
seus praticantes, responder aos seus preconceitos em relação ao Cristianismo e,
acima de tudo, deixar esses fascinantes místicos cristãos falarem. São as
melhores testemunhas e os defensores mais credíveis do encontro com
Deus. Sonhei com um livro acessível a todos, mas que conduzisse ao coração
da experiência cristã.
A meditação está atualmente desfrutando de uma
popularidade considerável. É praticada em hospitais, escolas,
empresas. Como você analisa esse sucesso?
Vários elementos trabalham a favor. Por suas origens, a meditação é uma
prática budista secularizada. Assim, evoca um modo de vida zen, ao mesmo
tempo relaxante e sem restrições morais ou de dogmas. Isso está muito em
sintonia com os tempos. A meditação também conta com amplo respaldo
científico. É comumente apresentada como uma prática benéfica para a saúde
mental. Acima de tudo, obtém bons resultados na redução da ansiedade ou no
equilíbrio de vidas excessivamente estressadas.
Devemos vê-la como manifestação do narcisismo
contemporâneo e da busca pelo bem-estar?
Acontece, sim, que a meditação seja praticada com este espírito, ainda que os
mestres da meditação convidem a mais gratuidade e altruísmo. O
individualismo generalizado da cultura ocidental a polui - como muitas outras
atividades. Mas acho que também podemos olhar para isso com simpatia e
grande interesse.
Em que sentido?
Em muitos aspectos, é uma reação saudável à nossa falta de silêncio, lentidão e
vida interior, uma reação à invasão das telas e ao consumismo. Resumindo:
uma recusa de horizontes muito superficiais ou existências muitas vezes ligadas
em modo "piloto automático". A meditação ensina você a parar e
estar totalmente presente em cada momento de sua existência, ao seu ambiente e
às pessoas. Como tal, não é incompatível com uma vida autenticamente
cristã e pode ajudar a encontrar um melhor equilíbrio humano. Em muitos de
nossos contemporâneos, sem fé ou cultura religiosa, ela também tende a se
tornar uma espiritualidade substituta. Em muitos casos, ele expressa uma
busca espiritual que não diz seu nome.
Não é uma forma de renúncia ou de amnésia em
relação à herança espiritual cristã?
Sim, claro! Mas antes de mais nada vejo nela uma provocação, um apelo
silencioso dirigido a nós, a nós fiéis. Não é normal que, aos olhos de
muitos, o silêncio, a meditação e o jejum evoquem os monges budistas mais do
que a imensa herança espiritual da Igreja. Depende de nós tonar essa
herança conhecida e, antes de tudo, vivê-la e torná-la atraente.
Como a meditação e a oração se unem e se diferem ao
mesmo tempo?
Tanto numa como na outra, o homem para, senta-se, cala-se, volta para dentro de
si e está presente ao que está ali. A meditação pode, portanto, tornar-se
uma eclusa de ar que nos introduz na oração. Entre meditação e oração,
portanto, não há oposição, mas a perspectiva, a ação, as intenções são
totalmente diferentes. Se ambas apelam à nossa interioridade, a oração
descobre ali a presença da Hóstia interior; então se torna relação, troca,
comunhão. Consente definitivamente com a alteridade e nos faz sair
radicalmente de nós mesmos.
Por que você se volta mais especificamente para os
mestres do Carmelo nestas páginas? O que eles têm a nos ensinar?
A primeira razão é minha proximidade com eles. Mas também existem razões
mais objetivas. Em primeiro lugar, sua diversidade. Eles contribuem
para a sua universalidade: Teresa de Ávila e João da Cruz
(espanhóis do século XVI); Teresinha do Menino Jesus e o Padre
Marie-Eugène são franceses, Édith Stein é judia, alemã e filósofa. Todos
os três estão mais próximos de nós no tempo. Seu ensino e seu testemunho
são adequados para uma primeira descoberta, bem como para leitores muito
avançados. Como o Evangelho, eles vão ao cerne das coisas sem nos
sobrecarregar com várias instruções ou conselhos complexos. São ótimos
educadores e sabem apoiar o crescimento de todos com paciência e
confiança. Acima de tudo, descobriram o quanto Deus os amava, antes de se
tornarem amantes contagiantes.
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